Eunice Maia X Companhia – Desafio #9: Reduzir na Casa de Banho

Depois da cozinha, a casa de banho era a divisão cá em casa que mais lixo gerava: muitas embalagens plásticas, muitos produtos diferentes, cada um com um propósito específico: champôs (mais do que um, não fosse o cabelo mudar subitamente de temperamento…), amaciadores, máscaras, gel de banho (diferentes aromas, claro, pele sensível; efeito exfoliante; efeito hidratante…), creme hidratante para o corpo e outro para o rosto, esfoliante corporal, cremes para as mãos e para os olhos, tónico, desmaquilhante, máscaras faciais, gel para o cabelo, desodorizante, perfumes, maquilhagem, cotonetes, pensos higiénicos e tampões, o dental, pasta de dentes, escovas de dentes, lâminas de barbear, toalhitas desmaquilhantes…

 

Podia continuar com esta longa enumeração por mais linhas… No dia em que me sentei para «destralhar», como fizera nas outras áreas da casa, analisei aquilo que acumulara e tentei ver o que efetivamente usava. Separei um monte (literalmente) de embalagens. Completamente obsoletas. Algumas por usar, muitas fora do prazo. Lembro-me bem de um produto em concreto, um tratamento para escalpe sensível que me foi completamente impingido e que eu trouxe para casa e que nunca cheguei a usar. Ou de uma embalagem quase cheia de creme antiestrias que prometia tudo e não fez nada — as estrias continu(av)am lá, tal como a embalagem.

 

E as embalagens foram-se acumulando num enorme arquivo morto, sem sentido, esquecido e disfarçado dentro de um armário de casa de banho. Aliás, é muito curioso e irónico, porque, em determinada altura, eu achava que a casa de banho não tinha arrumação nenhuma, que fazia falta um armário debaixo do lavatório. Pois bem, depois das mudanças que adotei e depois de ter analisado o que, de facto, usava, este armário deixou de ser necessário. O que uso hoje cabe perfeitamente na borda da banheira e em cima do lavatório. O problema não era falta de arrumação; era o excesso de produtos! Também aqui, menos foi (e é) mais.

 

– Eunice Maia

 

Algumas dicas

1. Faça uma “auditoria” – retire tudo o que tem dos armários, agrupando os produtos por funcionalidades (cabelo, rosto, corpo, higiene,…) e verifique o estado e validades. Analise também quais são os produtos repetidos ou com uso similar.

2.  Gaste até ao final os produtos em bom estado e os repetidos – no final de vida, se possível, corte a embalagem com a ajuda de uma tesoura (vai ver que ainda há muito produto para aproveitar). Dê às embalagens o destino correto (consulte a WASTEAPP (incluir link: https://www.wasteapp.pt/home ), da Quercus, para ter acesso à localização dos pontos de descarte responsável mais perto de si).

3. Se tiver de adquirir embalagens (elas são fundamentais, para, por exemplo, garantir as suas propriedades, benefícios e eficácia), opte, caso seja possível, pelo tamanho familiar.

4. Reduza o número de produtos através de opções multifuncionais – um mesmo produto, múltiplas aplicações (rosto, cabelo, corpo).

 

Cabelo

5. Experimente comprar champô a granel ou champô sólido; o mesmo com os amaciadores. Há já muitas marcas (e com elevada qualidade) no mercado.

 

Corpo

6. Em vez de gel de banho em embalagem, opte por sabonete ou compre o gel a granel.

7. Use óleo de amêndoa – ou outro com a mesma função (em frasco ou a granel) como hidratante.

8. Experimente fazer receitas caseiras  de esfoliante a partir de ingredientes da despensa ou de desperdício alimentar, por exemplo, borra de café (junte-lhe azeite ou mel.)

9. Em vez de esponja de banho ou puf, use uma lufa, por exemplo, ou faça um disco em crochê.

10. Desodorizante – pode fazer em casa (passo a passo aqui) ou opte por uma versão sólida ou em cartão / lata ou ainda pela pedra de alúmen.

11. Use um aparelho de barbear com lâminas recarregáveis para fazer depilação.

12. Use óleos corporais como perfume (junte ao óleo de coco umas gotas de óleo essencial).

 

Rosto

13. Recorra a óleo de coco ou de amêndoa para remover a maquilhagem;

14. Em vez de toalhitas ou discos descartáveis, recorra a discos reutilizáveis ou pequenas toalhas.

15. O ritual de limpeza pode ser feito também com sabonete puro vegetal (à base de azeite, por exemplo) ou com farinha de arroz, amêndoa ou aveia.

16. Faça uma vaporização facial, colocando camomila numa tigela de água quente.

17. Para fazer uma máscara facial, pode recorrer a argila, água e a pós vegetais.

18. Para hidratar a pele, use águas florais, infusões frescas.

 

Higiene oral

19. Quando tiver de renovar a escova de dentes, opte por uma com cabeça amovível ou por escova de madeira (para evitar humidade, nunca a pouse na vertical ou em recipiente fechado).

20. Use pasta de dentes sólida ou em frasco de vidro ou em tubo 100% reciclável.

21. Opte por fio dentário em materiais com menos impacto pós-consumo do que o plástico (fibra de bambu, por exemplo).

 

Menstruação

22. Recorra a pensos reutilizáveis e/ou coletor menstrual e cuecas menstruais

 

Outros

23. Em vez de cotonetes com haste de plástico, opte por reutilizáveis ou compostáveis ou por simplesmente não usar;

 

Inspirações

Cátia Curica– autora das receitas de desodorizante e pasta de dentes e dos produtos de beleza e higiene que uso e faço em casa.

Fê Canna– criadora do ritual de cuidados faciais naturais que adotei em casa, com ingredientes da despensa.

 

Nota importante

Esta não é uma manifestação de uma fervorosa cruzada antiplástico. É importante repetir: o inimigo não é o plástico; é o uso que dele fazemos, a forma como (o) consumimose descartamos — o problema está em nós e no nosso comportamento, não no material. Aliás, ironicamente, o plástico chega a ser, numa lógica de análise do ciclo de vida (LCA – Life Cycle Assessment), se pensarmosnas primeiras fases desse ciclo, mais sustentável do que outros materiais normalmente elencados como alternativa. É essencial no armazenamento e na manutenção das propriedades e benefícios dos ingredientes dos produtos e, muitas vezes, atua como elementos de prevenção do desperdício do próprio produto, conservando-o durante mais tempo.

A questão da sustentabilidade vai obviamente muito para além da questão dos das embalagens de plástico, dos resíduos e da adoção de um estilo de vida low waste, mas reduzir a nossa produção individual de resíduos — consumindo menos, consumindo melhor, de forma mais responsável e consciente — é essencial para mitigar o impacto desses mesmos resíduos no ambiente, na nossa saúde e na saúde do planeta. Não é a única via, mas é uma via importante.